quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Balenciaga, o rigor é fogo que arde

A paixão pelo rigor que sempre distinguiu Balenciaga entre os seus pares adquiriu-o ele nas oficinas de alfaiataria de San Sebastian, onde foi aprendiz, como a Casa Gómez ou a New England. Aí adquiriu as competências que Chanel lhe reconheceria: as artes do corte e da costura e até as de tirar medidas aos clientes, tarefa que o costureiro, mesmo no auge do prestígio raramente delegava nos colaboradores. Em plena Iª Grande Guerra, ousou abrir a sua própria casa (a que deu o nome da mãe, Eisa, com quem manteve sempre uma ligação muito forte) no número 2 da Calle Vergara, em San Sebastian, beneficiando um pouco da neutralidade da Espanha no conflito e das praias bascas se tornarem, por causa disso, uma alternativa de férias para alguma aristocracia europeia. O seu nome afirma-se. Entre as suas clientes, para além das filhas da casa Torres, contam-se a Rainha de Espanha, Victoria Eugenia (avó de Juan Carlos)  ou a marquesa de Llanzol, Sonsolez Icasa (1914-1996), amante do braço direito (e cunhado) de Franco, Serrano Suñer, e uma das mulheres mais bem vestidas da Espanha do seu tempo. 
Com a implantação da República espanhola em 1931, Balenciaga compreende que os tempos de "vinho e rosas" de San Sebastian pertencem ao passado e abre lojas em Madrid e Barcelona. Só a Guerra Civil e as suas terríveis consequências o levarão a abandonar Espanha em 1937 e a fixar-se em Paris, que era então a incontestada capital mundial da moda. Uma lenda acabava de nascer.
Reservado e elegante, este basco, belo como uma "estrela" de cinema, resistiu com sucesso ao folclore mediático que já então dominava o negócio. As guerras histriónicas que opunham Coco Chanel a Elsa Schiaparelli nada lhe diziam, o espectáculo montado, no pós  IIª Guerra  Mundial, em torno do "New Look" de Christian Dior desesperavam-no. Considerava tudo isso ruído obsceno que o distraía do essencial, a paixão pelo rigor que, nele, ardia sem se ver: como se os detalhes visíveis e invisíveis de um vestido fossem um corpo de amante.

Em Paris, Balenciaga repete o mesmo sucesso que obtivera no seu país, mas torna-se um fenómeno global.  Entre as suas melhores clientes (ou devotas, tal era a dedicação que lhe consagravam) contavam-se a Condessa von Bisnarck, a duquesa de Windsor, Jackie Kennedy e sua irmã, Lee Radziwill, Helena Rubinstein, Bunny Melon, Begun Aga Khan III, Ava Gardner, Grace Kelly, Ingrid Bergman, Marlene Dietrich e Lauren Bacall.


Balenciaga tinha então a reputação de ser o costureiro mais caro de Paris e mulheres como estas sabiam porquê. 

Sem comentários:

Enviar um comentário